quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Blog do Paulo

A prece da contemplação mística
Postado por Paulo Coelho em 22 de Agosto de 2008 às 00:15
Embora numerosos estudos judaicos falem da contemplação mística, o cristianismo - na sua luta para crescer e estabelecer-se - terminou restringindo esta prática aos monges que se isolavam no deserto.
A contemplação mística só vai ressurgir com força através dos escritos de Santa Tereza D’Avila e San Juan de La Cruz.
“Vá para um lugar silencioso, e deixe sua alma ajoelhar-se. Não pense em nada, apenas entregue-se”, diz um dos seguidores desta tradição.
“Tente unir seu desejo com o desejo de Deus. Em seguida, tente transformar seu desejo no desejo de Deus. Se você fizer isto durante duas semanas, cinco minutos por dia, o amor supremo - Agape - se manifesta. Ele trará de volta as cores de sua vida”.
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Dos elefantes voadores
Postado por Paulo Coelho em 21 de Agosto de 2008 às 00:26
Dois materialistas estão sentados na beira de uma estrada, quando passa um elefante voando. Um não olha para o outro – porque, é claro, elefantes não voam.
Cinco minutos depois, passa outro elefante voando. Desta vez eles se olham, mas não comentam nada – talvez estejam sendo vitimas de uma alucinação coletiva.
Materialistas só acreditam no que sabem explicar.
Até que passa o terceiro elefante voando. Agora já não dá mais para evita – é preciso encarar o assunto.
“Viu os elefantes?”, pergunta um.
O outro, morrendo de medo de parecer ridículo, concorda.
“Mas tem uma explicação”, diz o primeiro, e o segundo respira aliviado. “Qual a explicação?”, pergunta.
“O ninho deles é aqui perto”, diz o mais sábio.
Pronto. Está explicado, e podem continuar sendo materialistas.
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Da ponte
Postado por Paulo Coelho em 20 de Agosto de 2008 às 00:22
Muitas vezes temos que dar tempo ao tempo. Outras vezes, temos que arregaçar as mangas, e resolver - nós mesmos - determinada situação. Neste caso, não existe pior coisa do que adiar. Adiar traz angustias e sofrimentos desnecessários.
Eu aprendi a não adiar as coisas do modo que todo mundo aprende: levando na cabeça.
Quando tinha 10 anos, minha mãe me obrigou a fazer um daqueles chatíssimos cursos de educação física. Um dos exercícios que era pular de um píer na água. Eu morria de medo. Ficava no ultimo lugar da fila, e sofria com cada menino que pulava na minha frente - porque em pouco tempo chegaria o momento do meu salto. Até que um dia, para impressionar uma menina, resolvi ser o primeiro a pular. Tive o mesmo medo, mas acabou tão rápido que eu passei a ter coragem.
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Da cobra
Postado por Paulo Coelho em 19 de Agosto de 2008 às 00:31
Muitas vezes procuramos conscientemente algo que irá nos causar sérios problemas. Eduardo Vieira conta uma interessante fábula a respeito.
Um homem cruza uma tempestade de neve, quando escuta um ruído. Vê uma cobra, ferida e quase morta de frio. “Me ajuda!”, diz ela.
“Você é perigosa”, responde o homem.
“Não vê que estou quase morrendo, e não posso lhe fazer mal nenhum?”, implora a serpente.
Compadecido, o homem a recolhe, e leva para a sua casa.
Durante algum tempo convivem em harmonia. Mas um dia, enquanto acariciava a cabeça da cobra, ele recebe uma mordida fatal.
“O que é isso?”, diz o homem, a beira da morte. “Salvei sua vida, lhe dei comida, carinho - e agora você me envenena?”
E a serpente responde: “mas você sabia que eu era uma cobra, não sabia?”
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Do amor do próximo
Postado por Paulo Coelho em 18 de Agosto de 2008 às 00:01
Muitas vezes é mais fácil amar que ser amado.
Temos dificuldades em aceitar a ajuda e o apoio dos outros. Nossa tentativa - inútil, por sinal - de total independência, termina não permitindo que nosso próximo tenha oportunidade de demonstrar seu amor.
Muitos pais roubam dos filhos a chance de dar o mesmo carinho e apoio que receberam quando crianças. Muitos maridos (ou mulheres) quando são atingidos por certas vicissitudes do destino, sentem-se envergonhados de depender do outro.
Não existe fraqueza nenhuma em aceitar um gesto de amor do próximo.
Às vezes, o ato de amar consiste em permitir que alguém nos ajude, que nos apóie, que nos de forças para continuar.
Se recebermos este amor com pureza e humildade, vamos entender que o amor não é dar ou receber - é participar.
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Da fé
Postado por Paulo Coelho em 17 de Agosto de 2008 às 00:53
Muitas pessoas dizem: “sigo a minha religião individual”. Que bobagem! O caminho é individual. Mas ele não existe sem a devoção coletiva - seja católica, protestante, judia, islâmica, etc.
Anthony Mello é autor de excelentes livros, com histórias de diversas tradições. Na dedicatória de um deles, sintetiza - com rara beleza - a importância da religião: “não posso esconder dos leitores a minha condição de sacerdote católico. Peregrinei por bom tempo, e livremente, por tradições não-cristãs, e até mesmo não-religiosas. Elas me enriqueceram, e exerceram grande influência na minha maneira de pensar. A Igreja, porém, é meu lar espiritual. Tenho noção das suas limitações, e até mesmo de sua estreiteza ocasional - o que me deixa embaraçado. Mas isto nunca irá destruir o fato de que foi ela que me formou, me moldou, e fez de mim o que sou”.
Pratique sua religião, seja ela qual for. Todos nós precisamos de um lar espiritual.
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Da noite vencida
Postado por Paulo Coelho em 16 de Agosto de 2008 às 00:52
Milton Ericksson é autor de uma nova terapia que começa a ganhar milhares de adeptos nos EUA. Aos 12 anos, foi vitima da poliomielite.
Dez meses depois de contrair a doença, escuto um médico dizer a seus pais: “seu filho não passa desta noite”.
Ericksson, logo em seguida, ouviu o choro de sua mãe.
“Quem sabe, se eu passar desta noite, ela talvez não sofra tanto?”, pensou. E decidiu não dormir até o dia amanhecer.
De manhã, gritou para a mãe: “Ei, continuo vivo!”
A alegria em casa foi tanta que, a partir daí, resolveu sempre resistir mais um dia, para adiar o sofrimento dos pais.
Morreu aos 75 anos, em 1990, deixando uma série de livros importantes sobre a enorme capacidade que o homem possui para vencer suas próprias limitações.
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Da loucura
Postado por Paulo Coelho em 15 de Agosto de 2008 às 00:23
Meu caro leitor ou leitora, preciso lhe dar uma notícia que talvez você ainda não saiba. Pensei em suavizar esta notícia, pintá-la com cores mais brilhantes, enchê-la com promessas de Paraíso, visões do Absoluto, explicações esotéricas. Mas, embora tudo isto exista, não vem ao caso tocar agora nestes assuntos.
Respire fundo e prepare-se. Sou obrigado a ser direto e franco e - posso assegurar - tenho absoluta certeza do que estou dizendo. É uma previsão infalível, sem qualquer margem para dúvidas.
A notícia é a seguinte: você vai morrer.
Pode ser amanhã, pode ser daqui a 50 anos, mas - cedo ou tarde - você vai morrer. Mesmo que você não concorde. Mesmo que tenha outros planos.
Pense com todo cuidado no que você irá fazer hoje. E amanhã. E no resto dos seus dias.
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Da ajuda
Postado por Paulo Coelho em 14 de Agosto de 2008 às 00:17
Mauro Salles me contou a seguinte história real:
O deputado foi contar a Tancredo Neves que um de seus assessores o criticava constantemente. E Tancredo respondeu: “mas como? Eu ainda nem o ajudei!”
Todos já experimentamos a ingratidão. Tancredo tratou o assunto com bom-humor e sabedoria; outros perdem a confiança no ser humano, e param de fazer qualquer coisa pelos outros.
Será que ajuda saber que isto não acontece só com você? Espero que sim. Porque as pessoas ingratas não podem moldar nosso comportamento. Elas não têm o poder de definir nosso caráter.
Deus - cuja opinião, no fundo, é a única que conta - jamais foi ingrato conosco. Vamos nos agarrar nisto; vamos continuar tentando nos comportar da maneira que queremos.
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Do aprendizado
Postado por Paulo Coelho em 13 de Agosto de 2008 às 00:23
Matarujo Yagyu viajou para encontrar-se com o célebre Mestre Banzo.
“Quantos anos levarei para ser um mestre?”, perguntou.
“A vida inteira”, respondeu Banzo.
“Não posso esperar tanto. E se eu estudar oito horas por dia, em quanto tempo aprendo os seus ensinamentos?”
“Talvez uns dez anos”, respondeu Banzo.
“Meu pai está velho, e breve terei que cuidar dele. Se eu fizer um esforço tremendo, e estudar 16 horas por dia, quanto tempo levarei?”
“Bem, neste caso terá que ficar trinta anos comigo. Os resultados rápidos levam mais tempo. Um pescador que não sabe manter a isca quieta, jamais pegará um peixe”.

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